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SBR027-Paisagem em substrato metapelítico pobre

          Pela inclinação das camadas, esta é uma área com substrato metamórfico. A rocha não é maciça, mas a mica resiste muito ao intemperismo pela relação K/(Al)1/3 (equação de Gapon), pois por ela, o K tende a ficar no sistema. A vegetação é campestre e o solo raso e muito pobre em nutrientes. O cascalho advindo do micaxisto fica residualmente na superfície. Nesse caso, é um micaxisto pobre, com sericita (moscovita) que resiste bastante à decomposição em sistemas pobres em bases. Acredita-se que todo esse material geológico tenha se originado da litificação, depois metamorfismo, de sedimentos pelíticos. E aí começa o mistério, pois tem-se como premissa que a formação de argila depende da participação biológica e só teria sentido com formas de vida mais evoluídas. Esses metapelitos são do Pré-Cambriano, antes de formas de vida mais complexas. Assim, de duas uma, ou a formação de argila pode se dar em grande quantidade na ausência de formas mais evoluídas de vida ou a vida foi mais evoluída antes do tempo que se supõe; isto é, já no Pré-Cambriano havia formas evoluídas de vida. A primeira hipótese é mais provável.

          A paisagem de vegetação campestre é relativamente comum em alguns trechos do Campo das Vertentes, em Minas Gerais, mas ocorre em outras regiões do Brasil também, como no entrono de Brasília, Baixada Cuiabana entre outros lugares. Aí há dois recursos ecológicos escassos: deficiência de nutrientes (ΔN) e deficiência de água (ΔA). E como os dois, ΔA e ΔN, interagem sinergicamente, isso dificulta muito para espécies arbóreas, ativas o tempo todo. O sistema radicular não pode se aprofundar muito por ser o solo raso, assim, efetivamente, só há água razoavelmente disponível num curto período de tempo (curta estação de crescimento). A combinação de ΔA e ΔN dificulta para a mata, assim, nessa área dominam as expressões de cerrado. A mata, conforme já observava Saint-Hilaire, ocorre apenas mais próximo as linhas de drenagem, partes mais declivosas.

          A razão da mata nessas partes mais declivosas, mais próximas às fontes d'água, nem sempre é muito clara, embora, tudo indica que um conjunto de condições pode estar afetando tanto ΔA quanto ΔN, mesmo porque se houver redução de ΔA (maior disponibilidade de água), há, necessariamente, melhor absorção de nutrientes. A água tende a escorrer para as partes mais baixas. Em adição, talvez aí possa haver um menor efeito de dessecamento pelo vento. A água que se infiltra no topo, ainda que em pequena quantidade, tenderia a fluir para essas partes mais baixas. Para essas partes mais baixas são também arrastados nutrientes (em particular na forma de cinzas após as queimadas), e isso tudo tende a reduzir ΔN. Essa é também uma área mais protegida contra queimadas. E há ainda a possibilidade de que material mais rico em nutrientes esteja sendo exposto nessas partes mais baixas, em algumas situações.

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