SBR060 - Latossolos e afloramentos de rocha
É muito comum o argumento de que a ausência de afloramentos de rochas, em particular num solo acidentado onde se esperaria que afloramentos ocorressem, indica profundo regolito, solo pobre e altamente intemperizado. Porém, como foi mostrado neste Bloco Diagrama, os afloramentos de rocha podem estar presentes em área de ocorrência de Latossolo, e na situação inversa, podem ser encontrados rasos, sobre rochas ricas em nutrientes, porém um solo pobre. Nesses casos duas considerações são importantes: (1) o tamanho do fragmento de rocha faz uma grande diferença; (2) a temperatura do lugar também. Assim, sob condições de altas temperaturas um fragmento pequeno de rocha rica é indicador de solo eutrófico; esse mesmo fragmento numa região subtropical não indica a mesma coisa: o solo é pobre em nutrientes disponíveis, frequentemente álico mesmo que a rocha fresca, rica em nutrientes, esteja logo ali. É uma questão de velocidade de reação, de cinética. Essa diferença está relacionada a lixiviação/intemperismo (Crompton, 1960; Carvalho Filho et al., 1991).
A presença de fragmentos maiores, mesmo ricos em minerais primários facilmente intemperizáveis, por questão de cinética, e de menor exposição de área, oferece grande resistência à decomposição. A região de Jaíba, no norte de Minas Gerais, um bloco calcário arredondado num Latossolo Vermelho Distrófico ilustra essa baixa velocidade de intemperismo. Mesmo abaixo do bloco o Latossolo era distrófico. Na paisagem, em geral, não são incomuns grandes afloramentos de granito junto com Latossolo que se apresentam distróficos.
Em resumo, a presença de fragmentos menores, angulares, de rochas ricas, sob condições de temperaturas altas indica solo eutrófico. Porém, esses mesmos fragmentos, sob condições subtropicais, podem estar associados a solos distróficos, e, ainda, álicos, com muito pouco nutriente disponível. Um bloco rochoso grande, arredondado, não indica solo eutrófico e, mesmo sendo um bloco calcário, não indica, necessariamente, que o solo ao lado (ou abaixo) seja rico em Ca.
Mais uma vez observa-se a importância e limitações dos indicadores, como é o caso de o fragmento de rocha indicar solo mais ou menos fértil. O indicador, como a palavra diz, apenas indica como uma possibilidade. O indicador, embora muito útil precisa ser aninhado em determinado contexto, ele não tem validade universal. Como se viu, um fragmento de rocha rica em nutrientes indica solo rico em nutriente (disponíveis) apenas sob condições de maiores temperaturas. Na Amazônia, indicaria. No Planalto das Araucárias, partes elevadas e mais frias (subtropicais) do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Sul do Paraná, já não indicaria a mesma coisa. O quartzito que em toda parte está associado a solo distrófico, já foi registrado como estando associado a solo eutrófico no Rio Grande do Norte (Jacomine et al., 1971).
Como se viu não é só o tipo de rocha ou a temperatura do local que determinam a riqueza do solo ao redor. Blocos rochosos gigantescos podem estar envoltos por solo distrófico, mesmo sob condições quentes. Nesse caso é um problema de pequena área de exposição à reação, acentuado com o fato de que ao ser arredondada pelo intemperismo (enquanto esteve enterrada) criou um eficiente sistema exportador tudo que caia na sua superfície, inclusive água, criando no seu entorno um ambiente de forte aridez desfavorável ao intemperismo.
Esse sítio de pronunciada aridez, que pode existir em plena mata atlântica ou amazônica, propicia a presença de espécies que não estariam aí não fosse essa peculiaridade da aridez local. A importância biológica disso é que são assim criados habitats com espécies anômalas para as condições comuns da área. Essa é essencialmente a ideia de refúgio, que se desdobra também noutros aspectos, mas sempre vinculados a ideia de oferta diferencial, local, dos recursos e condições às formas de vida.
Referências
Crompton, 1960;
Carvalho Filho et al., 1991
Jacomine et al., 1971