SBR036 – Um trecho do semiárido
O semiárido brasileiro tem solo muito propício a erosão, isso desfavorece às plantas que investem numa renovação anual por sementes. Essas plantas, como as gramíneas anuais, são totalmente prejudicadas pela distribuição anárquica das chuvas (chove relativamente muito num ano, podendo não chover quase nada noutro). Esse regime favorece às espécies lenhosas, que florescem e frutificam normalmente, mesmo após anos sem chuva. A renovação por sementes é dificultada até para plantas lenhosas, um exemplo é que quando são deixados tocos de jurema-preta, a recuperação após a queimada é muito mais rápida do que quando a recuperação se dá após a destoca (Ernesto Sobrinho, 2014). Além das plantas lenhosas surgem nessas áreas as cactáceas, com sistema radicular superficial e ocupando habitats inóspitos para outras espécies.
As plantas lenhosas não investem tanto em reprodução como as gramíneas, mas investem muito na estrutura e fisiologia para adaptarem-se aos estresses hídricos acentuados. Elas capitalizam o máximo de produção no curto período chuvas, é, de certa forma, como se fossem plantas anuais em fuga da estação seca rigorosa, mas só que, no caso das lenhosas da caatinga elas não terminam o ciclo, apenas interrompem durante a seca para continuaram de onde pararam no ano (e às vezes anos anteriores). Por isso, o florescimento e até a frutificação vêm logo às primeiras chuvas. É uma continuidade, começam o ciclo num ano e terminam noutro.
Apesar do estresse hídrico pronunciado, não parece haver evidência de competição por água. A caatinga original costuma ser muito densa e isso indica que não usou estratégia para competir por água, mas mostra uma grande convergência ecológica nas folhas miúdas e engalhamento desde a base do tronco, aumentando o contato da folha com o vento, para troca de energia. Isso causa um aumento de perda de calor por convecção e, mais importante, permite a manutenção de folhas túrgidas o que otimiza a fotossíntese, permitindo o máximo de produtividade no curto verão chuvoso.
Apesar da erosão intensa ainda há solo, isso sugere que algo está contrabalançando as perdas erosivas numa mesma ou equivalente velocidade. A pedogênese está numa taxa compatível com a da erosão; e, daí, se pode concluir: o semiárido brasileiro tem solos rasos não porque a pedogênese é reduzida, mas sim porque a erosão é muito intensa.
Referências
Ernesto Sobrinho, 2014