SBR010 - Solos com idades diferentes
A sequência de figuras A, B, C e D, são como se fossem retratos do que se espera acontecer quando após um clima árido (A), a causar o aplainamento, pediplanação, instala-se de forma prolongada um bioclima úmido e quente. O pediplano vira chapada com solo profundo e permeável, com cursos d'água permanentes, mas muito afastados uns dos outros, não é incomum 30 km de separação (B), o chapadão permeável e plano resiste, ele mesmo, à sua própria destruição - não há água de deflúvio suficiente para isso; com o tempo o processo erosivo avança (C) e cria-se uma paisagem acidentada com morros arredondados, principalmente de forma convexo-convexa, como o mar de morros.
Apesar de plano, a drenagem em A é desorganizada; em B o solo velho e profundo. A relação pedogênese/erosão atual pode não ter relação com a idade do solo. Os solos atuais podem herdar características de solos profundos e suaves (chapadões), que se estendiam pela área toda; a maior remoção nos segmentos mais rebaixados (partes mais baixas de C e D) fazem com que a rocha fresca fique mais próxima da superfície, renovando os nutrientes por intemperismo e produzindo solos mais férteis.
O solo e seus horizontes não dependem só do presente, pois são corpos históricos que dependem do que aconteceu. O horizonte A do solo atual pode ter sido determinado pelas condições atuais de clima, organismos etc. mas o horizonte C pode provir de situações diferentes das atuais. Pode ter herdado o regolito de condições anteriores - ser um paleorregolito.
No processo de dissecamento, quando se aumenta a velocidade de erosão pelo aumento de desnível, provocado pelo aprofundamento da linha de drenagem vindo da costa para o continente, o tempo de residência da partícula (TEP) no solo diminui. A paticula, ao ser erodida, outra entra no seu lugar, como se fosse uma substituição de peles. Assim, o paleorregolito formado no chapadão ainda pode estar parcialmente presente no terreno acidentado do mar de morros mas, com o continuar do processo de aprofundamento de talvegue, de criação de energia, alimentando a erosão vai chegar o momento em que a rocha fresca subjacente já começa a influenciar no novo solo, na nova pele, que agora conta com minerais primários facilmente intemperizáveis, e pode formar Argissolo Eutrófico. Um solo rico, numa paisagem geral de solos pobres, promovido pela erosão natural diversifica o ambiente, coloca nutrientes à disposição da vida, cria nichos, alimenta a diversidade.
Com o continuar do processo de aprofundamento da linha de drenagem, há uma retificação da encosta convexa, cada vez mais íngreme, até, a começar da base ir se tornando linear e inclinada (ângulo de repouso) e, por regressão paralela, ir pouco a pouco substituindo todo o topo convexo, virando a paisagem de quinas e ravinas (Hack, 1960).
Referência
HACK, John Tilton. Interpretation of erosional topography in humid temperate regions. Bobbs-Merrill, 1960.